05/05/2014
- 13h05 Comissões - Direitos Humanos - Atualizado em 05/05/2014 -
18h47
Contabilidade criativa: debate conclui que governo esconde realidade econômica
Rodrigo
Baptista
Bezerra, Cristovam, Mansueto e Dyelle, durante a a audiência pública na CDH
O
governo federal usa manobras contábeis – que vem se
convencionando chamar de “contabilidade criativa” – para
esconder a expansão da despesa pública, do déficit e da dívida
governamental. A conclusão é do senador Cristovam Buarque (PDT-DF)
após ouvir especialistas em finanças e transparência pública em
audiência pública promovida pela Comissão de Direitos Humanos
(CDH) na manhã desta segunda-feira (5).
O
crescimento dos restos a pagar (despesas empenhadas, mas não pagas
dentro do exercício financeiro), a postergação de transferências
de receitas para estados e municípios e a prorrogação de repasses
do Sistema Único de Saúde (SUS) foram alguns dos pontos criticados
durante o debate.
– A
audiência mostrou com clareza que o governo está usando artifícios
para esconder a realidade da economia. O povo vai votar nestas
eleições sem saber a realidade da economia. Essa contabilidade
criativa se esgota. Eu temo que quando isso estourar a insatisfação
popular irá às ruas com uma força nunca vista antes – disse o
senador.
Conforme
dados apresentados pela Associação Contas Abertas, os restos a
pagar (RAP) incluídos no Orçamento de 2014 da União somam R$
218,4 bilhões, montante 23,6% maior que o do ano passado. Em 2013,
esse montante foi de R$ 176,7 bilhões. Apesar de os restos a pagar
superarem os R$ 200 bilhões, o governo só tem à disposição R$
33,6 bilhões de anos anteriores para gastar imediatamente. O valor
refere-se aos valores já processados. Ou seja: verbas que passaram
pela fase de liquidação e podem ser executadas a qualquer momento.
Superávit
inflado
De
acordo com a jornalista Dyelle Menezes, da Associação Contas
Abertas, a prática do governo de prorrogar pagamentos previstos de
um ano para o outro colaborou para elevar o resultado do superávit
primário de 2013. O resultado primário é a diferença entre
receitas e despesas do governo, excluindo-se da conta as receitas e
despesas com juros.
– O
resultado primário foi inflado por manobras orçamentárias. Essa
passagem do Orçamento de um ano para o ano seguinte fere o
princípio da anualidade do Orçamento e forma um Orçamento
paralelo. Um exemplo disso é que dos R$ 42 bilhões investidos no
ano passado apenas 16 bilhões eram do Orçamento do ano. O restante
era proveniente dos restos a pagar. Isso é uma bola de neve! –
advertiu Dyelle.
Segundo
a organização não governamental, as contas do governo carecem de
transparência. Mesma opinião manifestou Mansueto Almeida,
especialista em finanças públicas do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea). Segundo ele, os restos a pagar vm sendo
utilizados para inflar artificialmente o resultado primário.
– O
governo não paga, ele espera a virada do ano para pagar. É muito
claro que foi isso que ocorreu este ano. A despesa do setor público
em janeiro é menor do que a de dezembro. Neste ano, foi o contrário
porque o governo represou várias das despesas de 2013 para janeiro
de 2014. Resto a pagar é um problema porque o governo pode empenhar
tudo que é obrigatório na área de educação e saúde e ele pode
atrasar bastante o pagamento – apontou.
Caixa
Econômica Federal
Já
o diretor-executivo da Caixa Econômica Federal (CEF), Paulo
Henrique Bezerra, se limitou a negar que o banco tenha encerrado
ilegalmente contas inativas e confiscado R$ 719 milhões de recursos
de depositantes da caderneta de poupança no ano passado, quando
cerca de 500 mil contas foram encerradas.
Os
recursos dessas contas foram registrados como receitas operacionais,
o que elevou o lucro líquido da Caixa em R$ 420 milhões no balanço
de 2012 (depois do pagamento de tributos).
Bezerra
enfatizou que o encerramento ocorreu conforme as regras determinadas
pelo Banco Central (BC) e pelo Conselho Monetário Nacional (CMN),
sem nenhuma ilegalidade.
Ele
sustentou também que nenhum cliente teve prejuízo e que o
correntista pode reaver os recursos, com correção, assim que
regularizar a situação cadastral. Entre 13 de janeiro e 30 de
abril, foram pagos R$ 5 milhões a 3.391 clientes que procuraram o
banco. O valor corresponde a aproximadamente 0,7% do saldo e da
quantidade de contas encerrada.
– Somente
0,7% procuraram a Caixa. Acreditamos que isso reforça a afirmação
que nós fizemos aqui quanto aos esforços adotados ao longo de dez
anos para regularização dessas contas. Os direitos dos clientes
foram preservados ao longo de todo esse processo e continuam
preservados – disse o diretor da Caixa.
Agência
Senado
(Reprodução
autorizada mediante citação da Agência Senado)